Estes seres são um elemento fundamental para a manutenção dos ecossistemas e garantia de biodiversidade. Preserve-os.
Abelhas: a vida sem elas não é sustentável
Já todos ouvimos falar do efeito borboleta, metáfora associada à teoria do caos, segundo a qual, o simples bater de asas de uma borboleta tem o potencial de provocar um tornado no outro lado do mundo. Mas se em vez de borboletas falarmos de abelhas – mais propriamente, na importância que estas têm para o planeta e para a sobrevivência de todos nós – rapidamente percebemos como o caos pode, de facto, instalar-se pela simples ação de um inseto. Ou, neste caso, pela sua inação. E tudo porque as abelhas são fundamentais para a manutenção da vida humana e da sustentabilidade do planeta.
Sem elas, a sobrevivência da humanidade ficaria gravemente ameaçada, e isso está bem patente numa famosa frase atribuída a Albert Einstein, segundo a qual, “se a abelha desaparecesse da face da Terra, o homem não teria mais do que quatro anos de vida”. Sobre a frase ter sido mesmo proferida pelo autor da teoria da relatividade não há certezas, mas sabe-se que o cientista se terá interessado por abelhas em determinada altura da sua vida (há registos disso) e também se sabe que, infelizmente, há um enorme fundo de verdade na afirmação.
Vamos então perceber porque é que as abelhas são tão importantes no nosso planeta e o que podemos fazer para protegê-las.
Polinização – a chave da alimentação mundial
A razão para a extrema importância das abelhas reside numa única palavra: polinização. Com efeito, cabe às abelhas e aos restantes polinizadores a tarefa de transportar o pólen de umas flores para outras, o que permite a fecundação e a produção contínua de frutos, vegetais, nozes, sementes e plantas, assegurando também uma maior variedade e melhor qualidade alimentar.
Segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), cerca de 75% da produção mundial de frutos e sementes para consumo humano depende da ação dos polinizadores, nomeadamente, das abelhas. Em termos concretos, isto significa que, sem a polinização, não chegaria às nossas mesas uma lista infindável de alimentos, como cebolas, tomates, pepinos, brócolos, morangos, mirtilos, abacates, melões, abóboras, couves, maçãs, amêndoas, laranjas e até o café e cacau, entre muitos outros. De acordo com o projeto World Bee Day, isto é o mesmo que dizer que uma em cada três colheres de comida depende da polinização.
Mas este é apenas um dos aspetos de uma enorme cadeia alimentar orquestrada pelas abelhas, já que as produções agrícolas mundiais contribuem não só diretamente para a alimentação humana, como também indiretamente, pois produzem o alimento de outros animais também. Por exemplo, as abelhas executam grande parte da polinização da alfafa a nível mundial, sendo esta planta muito usada como forragem para o gado, pelo que se a alimentação deste fosse afetada, também o seria a pecuária e até a produção de leite.
Agricultura sustentável e impacto económico
Estima-se que, ao longo dos últimos 50 anos, a quantidade de produções agrícolas que dependem da ação dos polinizadores triplicou, sendo que estes trabalhadores incansáveis não só contribuem para aumentar a produção das colheitas como também para melhorar a sua qualidade e aumentar a resistência às pragas, o que acaba por ter também impacto considerável ao nível da sustentabilidade económica.
Com efeito, as plantas cultivadas que dependem da polinização são uma importante fonte de rendimento para os agricultores, especialmente dos mais vulneráveis e com negócios familiares a cargo nos países em desenvolvimento, garantindo empregos e salários a milhões de pessoas em todo o mundo. De acordo com as estimativas de um estudo internacional realizado em 2016 pela Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem (IPBES), a produção anual de alimentos que dependem diretamente da polinização varia entre 235 e 577 mil milhões de dólares.
A nível europeu, o impacto é igualmente relevante, com a Comissão Europeia a estimar que as abelhas contribuem com, pelo menos, 22 mil milhões de euros todos os anos para o setor agrícola. A polinização realizada pelas abelhas é responsável por mais de 80% das produções agrícolas e selvagens na Europa, sendo que estes insetos garantem ainda o fornecimento de mel e outros produtos resultantes da apicultura, como o pólen, a cera para processamento de alimentos (e para outros fins, como a produção de velas ou produtos de beleza), própolis e geleia real, estes últimos usados sobretudo devido às suas características benéficas para a saúde humana. Sabe-se que a União Europeia produz cerca de 250 mil toneladas de mel por ano, graças a 600 mil apicultores e 17 milhões de colmeias.
Biodiversidade e proteção ambiental
Mas o impacto positivo das abelhas no planeta é ainda mais vasto. Isto porque as plantas que necessitam de polinização para a sua reprodução contribuem para mais de metade das fibras, óleos e matérias-primas usadas globalmente, além de que desempenham um importante papel no combate à erosão dos solos, ajudando também na absorção do dióxido de carbono da atmosfera e consequente libertação de oxigénio. Ou seja, as abelhas são cruciais para a preservação do equilíbrio ecológico, constituindo ainda elementos fundamentais para a biodiversidade. É que, sem abelhas, as plantas selvagens não seriam polinizadas, o que reduziria a variedade de espécies que encontramos nos nossos campos de cultivo, parques e jardins.
Outro aspeto curioso é que as abelhas funcionam como uma espécie de indicador do estado do meio ambiente. Informações sobre a sua presença, ausência e quantidade, são indicadores daquilo que está a acontecer, já que estes insetos são extremamente sensíveis a variações de temperatura e outras alterações. Por isto mesmo, ficou conhecida uma intervenção de José Graziano da Silva, antigo diretor-geral da FAO, quando disse que “as abelhas são um sinal de ecossistemas que funcionam bem”.
Porque é que as abelhas estão a desaparecer?
O grande problema é que as abelhas têm vindo a desaparecer progressivamente, pondo em risco tudo o que acabou de ser referido neste artigo, desde a alimentação da população mundial até à sustentabilidade ambiental. Segundo informação contida no já referido estudo da IPBES, 9% das espécies de abelhas e borboletas na Europa encontram-se ameaçadas, assistindo-se a um declínio de 37% na população de abelhas e de 31% na de borboletas.
Síndrome do colapso das colónias é o nome atribuído a este fenómeno, identificado inicialmente nos EUA, por volta de 2006, e, desde então, apicultores norte-americanos e europeus têm vindo a relatar perdas anuais nas colmeias de mais de 30%, o que é substancialmente superior ao considerado normal ou sustentável.
Entre as principais causas para este flagelo estão as práticas de agricultura intensiva, exposição a pesticidas, crescente perda de habitat, redução da biodiversidade, disseminação de pragas, poluição atmosférica e aumento da temperatura do planeta.
Proteger as abelhas é preciso
A importância das abelhas para o planeta é de tal ordem – e a sua ameaça tão evidente – que diversos investigadores estão a desenvolver abelhas robóticas, ou seja, pequenos drones programados para replicar o comportamento das abelhas, nomeadamente, recolher o pólen de uma flor e transferi-lo para outra, fertilizando-a. Mas por mais eficazes que eventualmente sejam, estas falsas abelhas não são tão bonitas nem poderosas como as reais, cabendo a cada um de nós ajudar a manter as abelhas vivas, a bem dos nossos ecossistemas.
Com esse objetivo, começam a surgir, um pouco por todo o mundo, os chamados santuários de abelhas, que mais não são do que locais construídos para garantir a sua sobrevivência, com abundância de flores melíferas em redor, as quais são escolhidas não só em função das espécies de abelhas em causa, como também da flora local. No Reino Unido, por exemplo, este intuito foi levado mais longe, tendo o município de Brent construído mesmo um corredor com mais de dez quilómetros de flores silvestres para garantir que não falta alimento às abelhas e a outros polinizadores, contribuindo para a biodiversidade da região. Assim, com o apoio das autoridades nacionais e locais, mas também com o contributo de todos nós, é importante que nos envolvamos globalmente na missão de salvar as abelhas.
Como podemos ajudar as abelhas?
Se costuma ter medo de abelhas e o seu ímpeto é matá-las quando as encontra, pense duas vezes. No limite, proteger as abelhas é proteger a sua própria vida e a do planeta. Se não sabe como fazê-lo, siga as nossas sugestões:
- Crie o seu próprio santuário de abelhas, assegurando que planta em abundância, no seu jardim, várias espécies de flores nativas, que floresçam em diferentes estações do ano;
- Compre mel e outros produtos derivados das abelhas a produtores locais e sustentáveis;
- Evite o uso de pesticidas, herbicidas e outros produtos nocivos na sua horta ou jardim;
- Proteja as colónias de abelhas e, se possível, adote uma;
- Conserve uma fonte de água no exterior para as abelhas;
- Avise as autoridades competentes caso encontres um ninho de vespas asiáticas, pois esta é uma espécie invasora e predadora das abelhas e das vespas comuns. Para tal, contacte a linha SOS AMBIENTE (808 200 520) ou a plataforma SOS Vespa em sosvespa.pt;
- Partilhe informação sobre a importância das abelhas com os seus amigos e conhecidos.