Faça como o Gervásio e seja responsável a reciclar. Se não tiver a certeza do que pode ou não fazer, confirme primeiro nas fontes certas.
O Gervásio demorou uma hora e doze minutos a aprender a separar as embalagens usadas. Era assim que, em 2000, o anúncio da Sociedade Ponto Verde nos convencia de que separar o lixo nos ecopontos segundo um código de cores é simples e acessível a qualquer um — até a um chimpanzé.
As cores e os seus materiais correspondentes podem ser fáceis de decorar por um chimpanzé: verde para as embalagens de vidro, amarelo para as de plástico e azul para o papel e cartão. Mas ao longo dos últimos 20 anos surgiram dúvidas. Com o dia-a-dia, o verde, amarelo e azul dos ecopontos ganharam nuances: o que fazer se um papel tem gordura? Um CD de plástico pode ir para o amarelo? Devemos passar as embalagens por água antes de as entregar ao ecoponto?
Além disto, num mundo cada vez mais consciente e preocupado com os despojos do consumo e os gastos de energia, é importante ter noção do que acontece efetivamente aos materiais que separamos em casa e qual é o impacto ambiental desta ação individual. Nas próximas perguntas respondemos a dúvidas práticas e mitos, afinal, 20 anos depois do Gervásio, ainda vamos a tempo de aprender a reciclar.
Tenho de lavar as embalagens?
Não deves lavar embalagens. É um gasto de água desnecessário. Depois de recolhidas, as embalagens passam por vários processos de tratamento — entre eles a limpeza. Deves escorrer bem o conteúdo das embalagens de vidro, plástico e metal — mas não há necessidade de passá-las por água. A única razão para lavar uma embalagem é não criar maus cheiros, o que, em geral, só acontece se for deixada durante semanas em casa.
O vidro é eternamente reciclável?
Sim. E essa é uma das suas grandes vantagens: uma garrafa feita a partir de matéria-prima tem tanta qualidade como outra feita a partir de vidro reciclado. Separar o vidro devolve, portanto, esse recurso à indústria de produção, evitando a exploração de recursos naturais, como leitos dos rios, de onde se retira a areia. E mais: poupa muita energia. Produzir vidro (a partir de areia) gasta mais energia do que fazê-lo a partir de vidro já existente. Cada garrafa reciclada poupa eletricidade que daria para manter uma lâmpada de 100w acesa durante quatro horas, afirma a Lipor, que gere a reciclagem no município do Porto.
Por outro lado, é bom lembrar que o vidro demorará 1 milhão de anos a decompor-se. É o material que leva mais tempo a ser absorvido à natureza e, sendo 100% reciclável, não há razão para desperdiçarmos este valioso recurso.
As lâmpadas vão para o vidrão?
Não. As lâmpadas fundidas devem ser entregues nas lojas onde comprares lâmpadas novas ou postas nos ecocentros da Electrão preparados para receber lâmpadas.
O vidro das lâmpadas não tem a mesma composição das embalagens em vidro e, portanto, não podem ser reciclados juntos. Mas mais importante do que isto: as lâmpadas fluorescentes ou de descarga têm substâncias perigosas. Quando se partem no vidrão essas substâncias espalham-se e contaminam todo o vidro.
Afinal, que vidros vão para o vidrão?
A palavra chave é embalagem. Todos os vidros que servem de embalagem devem entrar no ecoponto verde. Isto exclui objetos como todo o tipo de louças, jarras, vidros de janelas, espelhos e as já ditas lâmpadas - isto porque não fundem à mesma temperatura que as embalagens de vidro, o que faz com que devam ser deixados em ecocentros. O vidrão serve essencialmente para garrafas, boiões e frascos.
Os pacotes de cartão para líquidos vão para que ecoponto?
Para o amarelo. A dúvida entre o ecoponto amarelo e o azul é legítima. Durante muito tempo não existia consenso em Portugal quanto à separação das ECAL (embalagens de cartão para alimentos líquidos), que são, de facto, constituídas maioritariamente por cartão. No entanto, têm também componentes plásticos e por isso estabeleceu-se que devem ser colocadas no ecoponto amarelo, à semelhança do que acontece nos restantes países da Europa.
A separação das ECAL no ecoponto amarelo leva a que passem por uma triagem rigorosa, sendo primeiro separadas das embalagens de metal e depois do plástico. As ECAL são Tetra Pak: 100 por cento recicláveis e feitas a partir de fibras de papel proveniente de árvores de florestas geridas de modo sustentável. Segundo a Lipor, a reciclagem de uma tonelada destas embalagens evita o abate de 15 árvores adultas e a emissão de 900 kg de gases com efeito estufa. Além disto, estas embalagens não vão parar a um aterro sanitário, onde ocupariam dois a três metros cúbicos.
Posso pôr metal no ecoponto amarelo?
Só se forem embalagens, como as latas de conserva. Mais uma vez, a palavra embalagem tira todas as dúvidas: são só estes objetos que devem entrar no ecoponto amarelo.
Falamos, portanto, de frascos, garrafas, pacotes de bebidas, latas e sacos de plástico. Todo o metal ou plástico que não se use como embalagem deve procurar forma de ser reciclado num ecocentro.
Pode parecer um espetro curto de objetos recicláveis, se pensarmos na quantidade de plástico e metal que está nos objetos à nossa volta. Mas o impacto da reciclagem de embalagens é grande: são os objetos de uso mais descartável e aqueles que mais facilmente vão ocupar espaço em aterros, onde leva centenas de anos para se desfazerem — grande parte dos plásticos leva cerca de 500 anos a decompor-se e alguns não chegam efetivamente a fazê-lo.
Ao serem reciclados para fazer novas embalagens ou outros objetos, estão a poupar recursos como o petróleo — uma tonelada de plástico poupa 130 kg de petróleo — e energia — uma lata de alumínio poupa a eletricidade equivalente a uma televisão ligada durante três horas.
Os guardanapos e lenços de papel vão para o ecoponto azul?
Não, se estiverem sujos. Guardanapos de papel e lenços são altamente porosos, o que significa que é impossível separar a gordura e humidade do material em si, impossibilitando a reciclagem. O mesmo se pode dizer das caixas de cartão com gordura (como as caixas de pizza, por exemplo).
Só posso reciclar papel, plástico e vidro?
Não. Atualmente, ainda mais do que há 20 anos, reciclar deve ser uma solução que ponderamos em relação a todos os objetos de que nos queremos descartar — a par da sua reutilização ou do upcycling. Os ecopontos verde, amarelo e azul são uma resposta rápida e prática para os objetos mais descartáveis, mas há outros recursos sobre os quais devemos pensar. A começar na água, um bem escasso e essencial, que muitas vezes desperdiçamos em casa: quando estamos a aquecer água para o banho, podemos reciclar aquela que corre enquanto esperamos que aqueça, ou até a água com que lavamos frutas e vegetais. Bastam algumas soluções criativas.
Há ainda outros objetos que podem ser perigosos se deitados ao lixo, pois vão contaminar aterros e a rede de água — e que devem ser entregues aos responsáveis pela sua transformação. No site e app da Quercus, Wasteapp, podes encontrar a solução para estes objetos perigosos - e não só.
Medicamentos
Entrega-os nas farmácias, assim como as suas embalagens. A Valormed é a entidade responsável por esta reciclagem.
Óleos alimentares
Devem ser postos, em garrafas de plástico, nos oleões, disponíveis junto a ecopontos ou em alguns supermercados e juntas de freguesia.É importante ter em conta que cada litro destes óleos deitado nos ralos ou sanitas pode contaminar um milhão de litros de água. A reciclagem destes óleos vai servir, por exemplo, para a produção de biocombustíveis, uma alternativa aos combustíveis fósseis.
Atenção: estes oleões são só mesmo para óleos alimentares e vegetais, não se podem colocar nos oleões óleos de motores.
Pilhas
A Ecopilhas é a sociedade responsável pela separação de pilhas, acumuladores e os seus componentes (depois encaminhados para as fábricas de reciclagem). As pilhas e acumuladores devem, por isso, ser colocados no pilhão.
Estes objetos são feitos de materiais como o mercúrio ou o chumbo e isto significa que podem contaminar as águas — estima-se que uma bateria possa contaminar 175 mil litros de água. Uma quantidade superior à que uma pessoa bebe em toda a sua vida.
Por outro lado, é possível reciclar alguns dos materiais que compõem as pilhas e baterias a 100 por cento, como é o caso do zinco, magnésio e potássio, do aço e do níquel.
Pequenos domésticos e eletrodomésticos
Por razões semelhantes às anteriores, estes objetos não devem ir parar a aterros. É importante perceber sempre, em primeiro lugar, se os pequenos domésticos ou eletrodomésticos de que te queres desfazer ainda trabalham (ou podem ser arranjados) para virem a servir alguém e assim, evitar o consumo de novos produtos. Em alternativa, os pequenos domésticos podem ser colocados no eletrão e os grandes monos podem ser entregues, por exemplo, nas câmaras municipais ou juntas de freguesia. Algumas autarquias têm mesmo um serviço de recolha.